Quando começamos a conversar sobre a criação deste blog, um dos maiores desafios foi escolher um nome que expressasse todos os sentimentos ao redor da nossa ideia.
Queríamos escrever sobre a infância, as brincadeiras de ontem e hoje, o jeito inocente de brincar, a forma como as crianças se relacionam com os outros e com o mundo. Ufa, parece bastante complexo, não é mesmo? Mas na realidade não é. Porque não estamos aqui pra definir regras ou formular teorias, tão pouco para dizer o que é certo ou errado na vida de ninguém. Estamos aqui para propor discussões, questionar padrões que muitas vezes não nos cabem e resgatar as relações humanas.
Nem boneca nem carrinho apareceu neste momento, quando nos demos conta de que estes dois elementos dizem muito sobre os esteriótipos infantis, mas que a infância vai muito além deles e é nela que introduzimos muitos dos conceitos e valores que nossos filhos levarão para o resto da vida.
Brincar não têm gênero, não tem cor e nem qualquer outra classificação que valha impedir uma criança de fazê-lo. Seja pra eles ou pra elas, brincadeira é brincadeira e sua função não é outra senão divertir, além de desenvolver habilidades e estimular a imaginação.
Portanto, que tal uma reflexão sobre estigmas, padrões e o que de fato alegra as nossas crianças? Nessa matéria da Revista Crescer podemos encontrar argumentos super interessantes sobre o tema, esperamos que goste.
Um beijo
Andrea e Anna
Photo: http://viewer.zmags.com
Tem diferença entre brinquedo de menino e de menina?
Por Thaís Ferreira e Thais Lazzeri
O que faz uma criança escolher entre um carrinho e uma boneca? Além da influência do ambiente e das pessoas com quem ela convive, a genética parece ter papel importante também. Pesquisadores da Universidade de Texas (Estados Unidos) colocaram um caminhão e uma boneca dentro de uma caixa com abertura frontal, usada para brincar com fantoches, na frente de 30 bebês com idades entre 3 e 8 meses. Os cientistas relataram uma predisposição natural para os meninos gostarem de brinquedos masculinos e meninas daqueles mais delicados.
Meninos e meninas possuem, de fato, diferenças no tempo do desenvolvimento de algumas áreas do cérebro que refletem no gosto que eles terão por brinquedos. As áreas do lado direito do cérebro, ligadas às questões visuais, são desenvolvidas mais precocemente nos garotos. Por isso, ele utiliza o brinquedo como ferramenta, para chacoalhar, montar, empilhar, organizar e usar conceitos lógicos. As meninas desenvolvem primeiro as áreas que envolvem linguagem e afetividade. Elas têm facilidade com relações pessoais e são atraídas por expressões faciais em bonecos.
Mas a genética não é o único determinante. Os seus valores e o ambiente em que o bebê cresce influenciam, sim (e muito!), nas escolhas que ele vai fazer. Pense rápido: o que você faria se seu filho quisesse brincar com bonecas e se sua filha pedisse de presente um carro com controle remoto? É comum e normal ficar aflito. Desde que você descobriu o sexo do bebê na gravidez, começou a ter expectativas. Se fosse uma menina, o quarto seria com tons em lilás ou rosa. Se fosse menino, ele ganharia roupas de um time de futebol e carrinhos. A indústria de brinquedos conhece esse universo e se apropria disso. As lojas estão lotadas de brinquedos em rosa-choque e azul-marinho. Por todos esses motivos, quando seu filho pede para brincar com uma boneca, ou vice-versa, você sente como se alguma coisa estivesse errada, mas não está, não. “A gente esquece que os meninos também têm bonecos de super-herói, soldados. Então, quando o menino pega uma boneca, frustra a expectativa dos pais”, diz Maria Luiza Macedo de Araújo, psicóloga e terapeuta sexual do Centro Brasileiro de Estudos da Sexualidade.
Pensar nas mudanças pelas quais a nossa sociedade passou mostra que essa inclusão nas brincadeiras apenas acompanhou os avanços pelos quais nós todos passamos. Se há 30 anos o número de mulheres que trabalhavam era menor, agora é crescente a presença delas no mercado de trabalho. Esse aumento fez com que a distribuição de papéis dentro de casa se modificasse. Em algumas famílias, o papel de cuidador da mulher está invertido, há cada vez mais casos em que a mãe trabalha e o pai fica com os filhos. Essas mudanças chegaram às brincadeiras também. Quando a criança troca de papel, treina como lidar com relações diferentes e emoções, tanto dela mesma como das outras pessoas. É um treino de tolerância e de lidar com a diversidade. Para Mauro Muszkat, neuropsicólogo infantil da Unifesp (SP), essa “pode ser uma vantagem adaptativa”. “Estamos em uma sociedade diferente e precisamos pensar em brincar de uma forma múltipla porque os novos tempos preparam desafios com papéis diferentes nas funções sociais”, afirma.
Essa troca não influencia a sexualidade. A psicóloga Maria Luiza explica que meninos não vão assumir o papel das meninas e vice-versa. Eles vão dividir. Ela conta que durante uma viagem percebeu que um grupo de crianças, formado por meninos e meninas com aproximadamente 8 anos, brincava com soldados e barbies. Em um momento, trocaram entre si os bonecos. Os meninos continuaram brincando de luta com as barbies e as meninas continuaram brincando de historinhas. “Para eles é só um brinquedo que pode ser mais legal do que os que eles têm. Se você tem dois ou três filhos, fatalmente eles vão fazer a troca mais cedo do que a criança que é filha única. Para ela, essa experiência vai acontecer na escola. Isso é saudável e os pais devem estar preparados”, afirma.
Quando você estimula seu filho a brincar com vários tipos de brinquedos, dá a ele a chance de desenvolver habilidades que vão ser importantes para o futuro dele, incluindo até a escolha da carreira. Se uma menina se diverte com blocos, ela tem mais chance de conseguir um desempenho melhor se pensar em ser engenheira; se tiver carrinhos, vai desenvolver mais a motricidade e o pensamento espacial e pode ser uma melhor motorista, por exemplo. O menino que brinca com bonecas pode ter mais facilidade para se relacionar com outras pessoas e entender melhor as mulheres – e essa não é a maior queixa feminina?
Fontes: Lais Fontenelle Pereira, coordenadora de educação do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana; Maria Cristina Capobiano, psicóloga infantil da Unifesp (SP); Renata F. Fernandes Gomes, psicóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Violência e Relações de Gênero – Nevirg – da Unesp/Assis (SP); e Raymundo de Lima, professor da Universidade Estadual de Maringá (PR).
Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI90751-10496,00-TEM+DIFERENCA+ENTRE+BRINQUEDO+DE+MENINO+E+DE+MENINA.html