Sempre que ouço as pessoas falando sobre as dificuldades de se criar uma menina, especialmente em um país violento e machista como o Brasil, penso imediatamente nas dificuldades que vivo diariamente na criação do meu filho Bernardo.
Bernardo tem 8 anos. Ele adora ler, desenhar e tocar piano. É um garoto criativo, intenso e extremamente sensível.
Cheio de personalidade e até o momento pouco preocupado com a opinião alheia, Bernardo já fez ballet; já se apresentou em um grupo 99% feminino (embora a proposta da turma fosse ser mista) fazendo ginástica de solo; tem um boneco menino o qual considera seu filho e com quem brinca de panelinhas e casinha com a irmã; não é lá muito fã de futebol (embora jogue vez ou outra com os amigos) e do ano passado pra cá já fez 2 tererês no cabelo (aquela trancinha com linhas e pedras coloridas).
E é aqui que entra a minha questão sobre as dificuldades de se criar um menino em uma sociedade que insiste em estigmatizar os homens como machos, e se importa tanto em impor regras bizarras sobre o que é de menino e o que não é.
Há poucas semanas, passeávamos pelas ruas tranquilas da pequena vila de Maringá, com um casal de amigos e suas meninas, quando de repente:
– Mamãe, podemos fazer tererê?
– Claro, filho!
Nos aproximamos das “barraquinhas” de tererê e dividimos as 4 crianças (3 meninas e 1 menino) em 2 grupos, pra acelerar o processo e dar tempo de todo mundo fazer a trancinha e depois jantar.
Entramos no Restaurante em frente e ficamos de olho na bagunça e no entusiasmo dos 4, enquanto escolhiam as cores das linhas e pedras que comporiam o adereço capilar.
10 minutos se passaram, e vejo meu menino adentrar o restaurante cabisbaixo e bem decepcionado, ao lado da amiga:
– Mamãe, o cara disse que eu não posso fazer tererê
– E por que não pode, filho?
– Porque ele está dizendo que não tem cores, nem pedras pra menino
– Mas isso é uma bobagem, filho, não existem cores, nem pedras pra menino, não é mesmo?
– É, eu sei, mamãe, acho que ele não quer fazer
– Sem problemas, Bê, tenho uma ideia melhor. O que acha de mudarmos o esquema e vocês 4 fazem o tererê com o cara do lado ?
– Acho ótimo. Obrigado, mamãe!
E me deu um sorriso como este aí da foto, do dia em que fez o primeiro tererê. Um sorriso leve, doce e cheio de gratidão, que encheu meu coração de alegria e me fez pensar que é assim que a masculinidade deveria ser: leve, doce e com mais compaixão.
Por essas e outras que, ADOREI a iniciativa da nova propaganda da GILETTE, que circulou na internet esta semana e que de maneira ousada e original – especialmente vindo de uma marca de produtos essencialmente masculinos – fez uma provocação extremamente atual e necessária ao conceito de masculinidade tóxica, que ainda insiste em prevalecer.
Obrigada, Gillette Brasil ❤. Sigamos lutando por um mundo com mais homens e menos machos.
Fantastico. Vc é uma excelente educadora.