Brasil lidera o ranking de obesidade infantil mundial, entre meninos e meninas de 9 a 11 anos

Dados de 6 mil crianças de 12 países são preocupantes, com relação a aumento de riscos de doenças crônicas e até fatais, em faixas etárias cada vez mais jovens

De acordo com dados científicos coletados pelo International Study of Childhood Obesity, Lifestyle and the Environment (ISCOLE),  o Brasil é vice-líder mundial em obesidade infantil entre meninas e meninos de 9 a 11 anos – só está atrás, respectivamente, de Estados Unidos e China. Por inferência, se tomados os dois sexos simultaneamente, o país lidera a doença nessa faixa etária. É o que alerta o médico Victor Matsudoconsultor para a área de atividade física da Organização Mundial de Saúde (OMS), além de diretor cientifico do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, o Celafiscs, representante do Brasil no ISCOLE.

O ISCOLE se formou com cientistas dos Estados Unidos, Brasil, Canadá, Colômbia, África do Sul, Quênia, Portugal, Inglaterra, Finlândia, China, Índia e Austrália, ligados ao Pennington Biomedical Research Center, de Baton Rouge, Louisiana.  O grupo reuniu dados sobre 6 mil crianças dos cinco continentes. Da coleta nesses 12 países, encerrada há cerca de quatro anos, resultaram mais de 80 publicações científicas entre 2016 e 2017, que apontam a gravidade da epidemia mundial de obesidade infantil, principalmente pela velocidade com que se alastra nessa faixa etária.

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Victor Matsudo cita conclusões de uma dessas publicações (“Relantionship Between Lifestyle, Behavior and Obesity): “Na média mundial, as crianças dessa idade ficam sentadas sete horas por dia, ou mais de três na frente de uma tela – seja de tevê, computador, tablet, celular. O Brasil é ‘campeão’ nisso. E está na vice-liderança da obesidade infantil entre as meninas e entre meninos – com números ainda piores. Como os líderes são países diferentes, se olharmos números dos dois sexos simultaneamente, o Brasil chega ao primeiro lugar.”

Foi nos anos 1990 que a OMS começou a alertar sobre obesidade – reconhecida como doença pela Associação Americana de Medicina (AMA) em 2013. “Infelizmente a obesidade infantil também já é uma epidemia mundial”, diz Victor Matsudo. Pior até que na faixa adulta, porque ganha mais velocidade a cada faixa mais jovem. Estudos apontam que em 2050 todos os adultos dos Estados Unidos serão obesos, mas 14 anos antes – portanto em 2036 –, todos os adolescentes daquele país já estarão dentro dessa classificação.”

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Por quê? “Porque os pais, ou avós, dessas crianças ainda tiveram algum contato com atividade física, para montar memórias de comportamento, como o prazer de correr sentindo vento no rosto. Hoje, as crianças só sentem o ventinho do computador… Quanto mais jovem, há menos atividade física. E ainda tem famílias achando bonitinha a criança com dois anos parada, ‘quietinha’, brincando com o celular. A OMS, o American College of Sports Medicine e a American Academy of Pediatrics recomendam no mínimo 60 minutos de atividade física para a criança todos os dias.”

Estudo do Celafiscs, que acompanha a população de Ilhabela, no litoral paulista, há quatro décadas, revela dados importantes como os resultados do trabalho do pesquisador Sérgio Vieira, que indicam: para cada criança da ilha, sete estão com excesso de peso. “E isso em um local com apelo geográfico que motivaria mais a atividade física”, observa Matsudo.

Foto: Reprodução/Dan Gold em Unsplash

Em sua tese de mestrado, o médico ultrassonografista Leonardo de Souza Piber, docente da Unisa (Universidade de Santo Amaro), também mostra resultados preocupantes. “Fizemos uma avaliação antropométrica [medidas de peso e altura, circunferência abdominal] com cerca de 300 crianças de uma escola municipal, para mostrar que são necessários alguns parâmetros somados para detectar a obesidade. Se metade delas foi classificada como ‘normal’, a outra metade ficou entre ‘com sobrepeso’ e ‘obesa’. Nessas, introduzimos o exame das vísceras abdominais – que mostra a gordura solta dentro na barriga – por ultrassom. É um exame sem radiação, que pode ser utilizado várias vezes, para acompanhar essa doença. E a cada exame procuramos conscientizar os pais para a necessidade de tratamento da criança.”

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São dados alarmantes, porque mostram riscos aumentados para problemas cardiovasculares, hipertensão e diabetes, dentre outras doenças crônicas, já na adolescência, ou ainda na própria infância. As raízes do problema estão basicamente na falta de atividade física e também na alimentação inadequada, rica em alimentos processados. O tratamento é multifuncional, o que inclui orientações médicas, lúdicas, nutricionais e psicológicas, envolvendo não apenas a criança, mas a família. Há ainda questões sociais, culturais e até urbanísticas, como a necessidade de mais áreas verdes para incentivar exercícios, e de promoção de campanhas de educação e orientação em escolas, desenvolvidas pelos três níveis de governo.

Fonte: https://br.vida-estilo.yahoo.com/brasil-lidera-o-ranking-de-obesidade-infantil-mundial-entre-meninos-e-meninas-de-9-11-anos-110012351.html

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