Pare e pense: Quais são suas melhores recordações?

A matéria já é um pouco antiga, mas o tema é atualíssimo e 100% alinhado com a nossa proposta de vida e pra vida! Por isso não nos cansamos de replicá-la. A cada leitura a certeza de estar fazendo as melhores escolhas. A cada leitura um aprendizado, então porque não compartilhar, não é mesmo?

O Nem Boneca, Nem Carrinho é isso – valorizar o que há de mais importante no mundo – os momentos inesquecíveis que vivemos.

Entre uma bolsa e um sapato, uma viagem com as amigas. Entre um carrão e um relógio chiquérrimo, um jantar com a família. Entre um carrinho de controle remoto e um boneco que fala 1000 palavras e que de quebra custam o mesmo que um carro popular, um passeio no parque com os irmãos. Definitivamente os momentos compartilhados tem um valor inestimável e ficam, sem dúvida, pra sempre em nossa memória e em nossos corações.

Então, tente, troque, mude, experimente. Comprar pode sim nos dar prazer, mas VIVER é muito mais legal.

Boa leitura!

Beijos

Andréa e Anna

Compre experiências e não coisas

Novas pesquisas mostram que investir em viagens, jantares e aventuras – em vez de produtos – pode levar a uma vida mais feliz

FLÁVIA YURI OSHIMA COM NATHALIA BIANCO, ALINE IMÉRCIO E RUAN DE SOUSA GABRIEL
01/02/2015 – 10h00 – Atualizado 01/02/2015 10h00

Carro com cheiro de novo, sapatos e roupas da última coleção ou a caríssima luminária criada por seu designer preferido. Comprar o que desejamos é um dos caminhos mais fáceis – e talvez enganosos – para a felicidade. Por isso o mundo em que vivemos é muitas vezes descrito como sociedade do consumo. Todos o praticam desenfreadamente. Comprar um objeto, um doce, um livro ativa em nosso cérebro mecanismos químicos de recompensa. Dá prazer. Leva a pessoa a pensar: “Eu sou alguém que sabe se vestir”. Ou ler. Ou comer. O problema é que a felicidade do consumo se dissipa rapidamente. Muitas vezes, antes mesmo da chegada da fatura do cartão.

Carlos Carnellas (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA e McKay Savage)
(Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA e McKay Savage)
Carlos Carnellas
41 anos  I  Microempresário
Experiência
Subiu três vezes o Monte Everest. Na segunda, chegou ao topo
“A montanha me tornou alguém mais desapegado. A lembrança de como me senti na primeira vez que cheguei lá ainda me emociona”

A tendência é que busquemos repor o prazer da compra com outra compra, num mecanismo similar ao do vício. Ele ganhou até um nome, cunhado por dois psicólogos da Universidade Yale em 1971: a esteira hedonista (leia adiante). Há, no entanto, uma solução simples para usufruir o prazer e evitar os problemas da dependência: consumir menos – e consumir melhor. Consumir de modo que a sensação de prazer perdure e até mesmo se renove com o passar do tempo. Ou, em outras palavras, consumir experiências, em vez de coisas.

A ciência está do lado de quem compra para viver – e não de quem vive para comprar. De acordo com pesquisas feitas nos últimos anos, investir em experiências aumenta substancialmente as chances de levar uma vida mais feliz, mais plena de sentido e significado. Uma dessas pesquisas foi divulgada recentemente pela Universidade de Cornell, nos EUA. Liderado pelo pesquisador americano Thomas Gilovich, o estudo intitulado Uma vida maravilhosa: o consumo experimental e a busca pela felicidade mediu, durante três anos, a forma como consumidores se sentiram em relação a suas compras, em intervalos de tempo distintos. Mais de 2 mil pessoas, dos 21 aos 69 anos, participaram da pesquisa.

Gilovich é um dos maiores especialistas do mundo em comportamento dos consumidores. Desde o início dos anos 1990, ele estuda como as pessoas empregam seu dinheiro – e o efeito dessas opções. No estudo mais recente, sua principal conclusão é que o gasto com experiências como jantares, viagens, passeios e espetáculos causa uma sensação de felicidade mais intensa e duradoura do que compras de produtos – por mais grandiosos e antecipados que eles sejam. “As experiências, ao contrário dos produtos, seguem em nossa memória e são revividas sempre que compartilhadas, expandindo nossa percepção de prazer e a de pessoas com quem as dividimos”, disse Gilovitch a ÉPOCA. Num mundo em que nunca houve tanta oportunidade de compartilhar (com as redes sociais e recursos como o WhatsApp), apostar em experiências pode ser um jeito divertido de distribuir bem-estar – e recolher um pouco de felicidade.

O microempresário paulista Carlos Carnellas está aí para comprovar o trabalho de cientistas como Gilovitch. Aos 34 anos, sofreu um acidente grave no trabalho. Quebrou o braço em três lugares. “Estava internado quando decidi que queria investir numa grande experiência”, conta ele. Resolveu subir o Everest – logo ele, que nunca havia escalado. Foram dois anos de escaladas na América do Sul e treinos físicos diários antes de sua primeira viagem ao Everest, em 2009. Daquela vez, chegou ao primeiro acampamento, o ponto de parada mais baixo do monte, a 5.400 metros de altitude. Carnellas vendeu um apartamento que tinha em São Paulo para financiar a expedição, que lhe custou US$ 62 mil. “A sensação de realização foi a coisa mais incrível que já vivi”, diz ele. “A noção de fragilidade que a montanha nos impõe é transformadora.” Desde então, Carnellas já participou de duas outras expedições ao Everest. Na segunda, em 2011, alcançou o cume. Cada viagem é precedida de intensa preparação financeira. Dono de uma pequena fábrica de embalagens, ele troca o prazer fugidio – e o conforto – de dirigir carros novos e viver numa casa maior pela promessa de grandes aventuras, grandes lembranças. “Nunca penso no que deixo de ter. A montanha me tornou alguém mais desapegado e feliz”, diz ele. “A lembrança de como me senti na primeira vez que a venci ainda me emociona.”

Não é preciso ter dinheiro para escolher experiências, e não coisas. É possível ter o mesmo tipo de prazer em atividades cotidianas, como reunir os amigos para assistir a uma peça de teatro ou tomar um chope. Isso acontece devido à forma como nossa mente interpreta nossas experiências. Enquanto as coisas que compramos ficam em garagens, armários ou prateleiras, as experiências tornam-se parte do que somos. “É o oposto da noção errada de que produtos duram e vivências são fugazes”, diz Gilovich. “O que experimentamos estará conosco enquanto tivermos memória para resgatá-lo.”

Roberta Malta (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
(Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
Roberta Malta
40 anos  I  Jornalista
Experiência
Em 2011, depois de mais de um ano na lista de espera, jantou no restaurante El Bulli, de Barcelona
“Foram servidos mais de 40 pratos em seis horas. Todos, sem exceção, eram lindos e deliciosos. Foi um evento que ultrapassou todas as minhas expectativas”

É claro que, quanto mais extraordinárias as experiências, quanto maior o investimento de tempo e energia, mais profundamente as impressões serão gravadas na memória. Quando o restaurante catalão El Bulli, até então considerado o número um do mundo, anunciou no início de 2010 que fecharia em menos de dois anos, a jornalista paulista Roberta Malta experimentou o mesmo tipo de urgência que Carnellas sentira. Roberta estava havia meses na fila de espera para provar a comida do chef catalão Ferran Adrià. Achou que sua vez não chegaria. Para sua surpresa, conseguiu uma data para dali a um ano, pouco antes de o restaurante fechar as portas, em 2011. “Quando me dei conta de que estava a caminho do El Bulli, chorei”, diz ela. “A refeição, composta de mais de 40 pratos, foi uma experiência incrível. Era tudo melhor do que eu imaginara, da estética ao sabor.”

Luciana Varejão (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
(Luciana Varejão (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
Luciana Varejão
42 anos  I  Empresária
Experiência
Comemorou, em 2012, seu aniversário com o marido e 11 amigos no disputado restaurante 58 TOUR EIFFEL, na Torre Eiffel, em Paris
“Quis marcar a passagem para os 40 anos com algo surpreendente, que eu pudesse fazer com as pessoas que amo. Foi inesquecível”

A empresária Luciana Varejão fez algo parecido. Ela queria marcar seus 40 anos com uma experiência memorável, que pudesse ser compartilhada. Escolheu jantar no concorrido restaurante da Torre Eiffel, em Paris, o 58 Tour Eiffel. Reservar mais de dois ou três lugares é raro. Luciana recorreu a uma agência especializada em experiências inusitadas, a Beespoken. No dia de seu aniversário, lá estava ela em Paris, ao lado do marido e 11 amigos, jantando no 58. Não há joia que substitua essa saborosa memória.

São muitos os mecanismos psicológicos que explicam por que viver algo traz sensações mais intensas do que possuir algo. O primeiro é que somos seres sociais. Conviver e compartilhar experiências são, para nós, fontes comprovadas de prazer. Ao longo das últimas décadas, vários estudos mostraram que pessoas com vida social equilibrada e fortes laços de afeto tendem a sofrer menos com depressão, melancolia e ansiedade. As experiências reforçam os aspectos positivos da nossa psicologia gregária. É mais fácil transformar um jantar ou um passeio numa experiência coletiva do que esperar que as pessoas se deleitem com nossa nova TV ou com aquela batedeira de grife, importada – por mais que às vezes pareça que não.

“Vivências são mais facilmente transformadas em experiências coletivas do que produtos”, afirma Sonja Lyubomirsky, pesquisadora da Universidade da Califórnia que há mais de 20 anos se dedica ao estudo da felicidade. Seu último livro, Os mitos da felicidade (Editora Odisseia), foi lançado em 2014 no Brasil. Ela diz que conversas sobre viagens, filmes ou uma peça de teatro são combustível certo de momentos prazerosos com amigos. Há compras que sugerem experiências, como o sítio onde você pode se reunir com amigos, mas, em geral, esse não é o resultado das compras. Mesmo compras longamente antecipadas, como o carro dos sonhos, não despertam empatia ou interesse nos demais. É um triunfo pessoal, apenas. Falar de conquistas materiais pode gerar constrangimento. Transmite a impressão de que o intercolutor está diante de um novo-rico exibicionista. Talvez esteja mesmo…

As redes sociais e os comunicadores instantâneos não só aumentam as possibilidades de compartilhar experiências como transformam as vivências em ponte para nos aproximar de pessoas com quem, de outra forma, não teríamos contato direto. Ao descobrirmos que amigos fizeram aquela mesma viagem ou provaram da última receita que nos surpreendeu, a relação de afinidade que estabelecemos com eles produz uma gostosa sensação de cumplicidade e pertencimento a um grupo – fonte comprovada de felicidade. Isso não ocorre com a posse de objetos. Pessoas com o mesmo modelo de carro que o nosso ou com o mesmo sapato não têm efeito positivo sobre o nosso bem-estar.

Nossa extraordinária capacidade de adaptação também ajuda a explicar por que o prazer das experiências é mais duradouro que o prazer das compras. As pesquisas mostram que cada ser humano tem um nível próprio de satisfação com a vida, ao qual costuma voltar depois de qualquer impacto, negativo ou positivo. Essa volta ao estado básico (ou adaptação, no dizer dos psicólogos) é essencial quando passamos por traumas, como a morte de alguém querido ou uma doença que nos traga limitações. Alguns estudos acompanharam gente que ficou paraplégica após um acidente. Constatou-se que, depois de um ou dois anos, a maioria voltava ao estado usual de satisfação – ou insatisfação – antes do trauma.

A mesma adaptação às circunstâncias ruins se dá com as coisas boas. Pouco depois da euforia de comprar a casa de seus sonhos, é provável que você retorne ao estado de felicidade anterior à compra. O mesmo vale para o sapato, a bolsa, o carro, a promoção no trabalho… Em pouco tempo, viver naquela casa vira rotina, o carro perde o cheiro de novo, a bolsa sai de moda e a responsabilidade extra que chegou com a promoção começa a pesar. Esse mecanismo leva à necessidade de buscar outras compras que reproduzam a sensação de prazer. A isso, Philip Brickman e Donald Campbell, psicólogos da Universidade Yale, chamaram de esteira hedonista (ou esteira dos prazeres, ou esteira adaptativa). É uma referência à imagem dos hamsters na esteira, correndo desesperadamente sem sair do lugar.

A opção pelas experiências, dizem os pesquisadores, ameniza em muito essa armadilha. Mesmo as experiências repetidas ainda são únicas, imunes ao efeito do hábito. Segundo o trabalho de Gilovich, ao contrário do que ocorre com os produtos, a sensação de bem-
estar com experiências positivas tende a aumentar com o passar do tempo. A cada lembrança de um episódio feliz, o sentimento é revivido. Até experiências desastrosas, como o carro quebrado no início da viagem ou o vexame de uma bebedeira, podem virar histórias hilárias, depois que o sofrimento for apagado pelo tempo.

Em linhas gerais, o prazer de uma compra é intenso no momento em que ela é feita. A partir dali, o objeto tende a se desvalorizar – imediatamente após sair da concessionária com seu carro novo, ele não vale mais aquilo que se pagou. Uma experiência funciona ao contrário. Seu valor pode não apenas ir crescendo com o tempo, mas às vezes tem o poder de modificar outras experiências – e até valores.

Regina Pereira (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
Regina Pereira
58 anos  I  Revisora
Experiência
Em 2013, percorreu ao lado de três amigos as oito cidades de Minas Gerais que inspiraram a obra do escritor Guimarães Rosa.
“Preparamos as leituras que faríamos em cada ponto de parada por seis meses. Foram 17 dias de emoção. Eu me sinto mais próxima de um autor que admiro”

Tome-se o exemplo do advogado Persio Bider. Ele sonhava em conhecer Israel. Aos 37 anos, finalmente, viajou para lá. Bider se surpreendeu com a comoção que sentiu ao conhecer locais sagrados das religiões judaica e cristã. Diz que sua relação com elas mudou. Agora, se organiza para ir ao Marrocos conhecer lugares sagrados dos muçulmanos. A revisora mineira Regina Pereira teve satisfação similar ao percorrer a trilha que passa pelas cidades citadas nas obras do escritor Guimarães Rosa, de quem é fã desde a adolescência. Passar pelos locais que Rosa descreveu e nos quais se inspirou lhe deu outra compreensão da obra. Ela se sentiu mais próxima do escritor e de seus livros.

Persio Bider (Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
(Foto: Ignacio Aronovich/Lost Art/ÉPOCA)
Persio Bider
37 anos  I  Advogado
Experiência
Realizou o sonho de conhecer os locais sagrados para judeus e cristãos em Israel
“Me emocionei refazendo o trajeto dos meus antepassados judeus, e também ao conhecer os marcos cristãos.
Em Israel, me senti conectado com Deus o tempo todo”

A terceira razão para preferir experiências à compra de bens é a comparação. A satisfação de ter um carro bacana pode ser afetada quando nossos amigos ou conhecidos compram modelos mais avançados. Um estudo dos pesquisadores Leonardo Nicolao, da Universidade do Texas, e Joseph Goodman, da Universidade de Washington, em 2009, sugere que experiências são menos passíveis de comparação do que produtos. Por duas razões: experiências distintas têm características peculiares, e o impacto de cada uma depende do repertório de cada pessoa. Como comparar um passeio de balão a um jantar à luz de velas na beira da praia? Ou uma viagem a dois para o interior da Toscana com levar os filhos a esquiar?

Mesmo quando a comparação é possível, a sensação de bem-estar não sofre alteração, segundo uma pesquisa de 2003, feita pela equipe de Gilovich. Ao comparar dois tipos de refeição, uma simples e outra mais elaborada, o fato de a segunda ser mais saborosa não influenciou na satisfação que a primeira produziu. O mesmo não ocorreu com o uso de objetos como canetas, canecas e notebooks. A satisfação obtida com o uso das primeiras amostras foi reduzida com o uso de objetos avaliados como mais eficientes ou confortáveis.

Há uma quarta razão para preferir experiências: o arrependimento causado por elas é menor. A compra de objetos causa duas vezes mais arrependimento do que os gastos com eventos. A conclusão é do estudo To do or to have (Fazer ou ter), de Leaf Van Boven, da Universidade do Colorado, em parceria com Gilovich, que também avaliou a duração da ressaca dos gastos indevidos. O desconforto causado pelo arrependimento de comprar demais perdura por muito mais tempo, e pode ser revivido toda vez que deparamos com o objeto da compra – ou com a fatura do cartão de crédito. O arrependimento produzido por gastos com experiências não só é passageiro, como também é diferente. Os consumidores se arrependeram três vezes mais pelo que deixaram de fazer do que pelo que viveram.

Se olharmos para cada real em nossa conta bancária como oportunidade de aumentar nossa felicidade, as experiências parecem, à luz da ciência, um investimento melhor que os objetos. Oferecem prazer mais intenso e duradouro, e causam menos culpa e menos inveja. Qual sua próxima experiência?

Fonte: http://glo.bo/1QbJ7iy

Deixe uma resposta