Festa de criança .. lembra?

Minha filha acabou de completar 3 anos e entrou na fase de ser convidada pras festas de aniversário dos amigos da escola. Como até então a maioria das festas que frequentávamos era dos amigos do meu filho mais velho, nem preciso dizer que quando o convite chegou ela ficou numa alegria só.

Chegamos da escola e ela foi correndo pegar o convite pra me mostrar. Os olhinhos dela brilhavam de tanta felicidade e ao me contar de quem era o convite e como seria a festa e quem iria … ufa, faltou até o ar na minha pequena. Quando abri o convite e vi a data morri de dó de falar pra ela que naquela data tínhamos um compromisso e muito provavelmente não poderíamos levá-la.

Resolvi então colocar o convite na geladeira, como de praxe, e passei a mão no telefone pra ligar pro “Disk Emergência: vovô e vovó”. Na hora em que falei meus pais super toparam e eu aliviada deixei que minha pequena curtisse a alegria do seu convite em paz.

Chegou o dia da festa e ela estava entusiasmadíssima. Especialmente porque não bastasse a festa em si, ela estava se sentindo parte daquilo tudo, já que que durante a semana a mãe do amigo aniversariante havia levado um dos itens de decoração da festa (um submarino amarelo) pra que as crianças todas pintassem.

Vovô e vovó chegaram e lá foram eles felizes da vida.

No fim do dia, meu pai me ligou encantado. Primeiro porque estava super contente de ter passado o dia com os netos e ainda de lambuja ia levá-los pra dormir na casa dele, segundo, porque conforme me contou, a festa foi uma delícia. Uma festa de criança pra crianças, sabe?

Bateu uma nostalgia de como eram simples e gostosas as festinhas da nossa infância? Então dá uma lida nesse texto que ele, meu pai (poeta e músico .. rs!), escreveu e me conta se não dá pra se teletransportar e se sentir criança novamente!

Boa leitura

Um beijo

Andrea

PLANTINHAS, ANIVERSARIOS E TUDO MAIS

O aniversariante foi o Theo, um lindo e garboso jovem portador de uma certidão de nascimento que, muito provavelmente, foi emitida em 2012. Posso deduzir a data com imensa margem de certeza porque uma de suas convidadas, de certidão passada em cartório no mesmo ano, é muito minha conhecida, tanto que, na impossibilidade de atender ao convite pelas mãos da mãe e pai, me foi confiada a cumprir a função.

Quanto mais o tempo avança, mais me parece verdadeira e procedente a frase atribuída ao dramaturgo inglês afirmando que “há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia”. Afinal, no que consiste a tal felicidade? Gente de peso já se referiu a ela com propriedade e lirismo, com ciência e poética, com sabedoria e com sensibilidade. Mas, quanto mais se pensa e se cerca, mais ela parece se esquivar das amarras de uma identificação ou de uma fotografa que revele sua identidade e seus meandros.

Às vezes fico com a impressão que ela é uma espécie de planta, árvore, arbusto ou folhagem, não sei. Mas, que enfeita os olhos e o coração, rescende a perfumes misteriosos e inimitáveis. E, diferente de outras ramadas frondosas e coloridas, a planta felicidade é discreta, parece gostar de um anonimato e só produz efeitos, sem se mostrar para os aplausos. E também tem o hábito de estar em diversos e diferentes lugares e situações.

Sou capaz de jurar que ela estava presente no aniversário do Theo. É claro que fica muito fácil detectar a presença da felicidade quando se reúnem, em um mesmo ambiente, uma porção de cidadãos e cidadãs recém-chegados ao planeta. Eles parecem altamente contaminados por ela, seus curiosos perfumes, seus exóticos sabores, sua visão enternecedora. Mas. No aniversário do Theo havia alguma coisa além disso tudo. É claro que eu não sei definir já que, além de não ter o peso dos que já se propuseram a isso, ainda conto com o mistério indecifrável a que se referiu o inglês e no qual vou ficando cada vez mais enredado. Mas, a festa do Theo teve um clima que me levou de volta a tempos já perdidos na noite dos tempos. A festa do Theo me levou de volta a uma época em que as mães, para celebrar os anos dos pequenos, “faziam uma mesinha”. Era assim que elas se referiam à festa que preparavam em casa para cantar o “parabéns a você”. E preparavam os docinhos, os salgados e o bolo, tudo regado, no máximo, a Guaraná Champagne da Antártica (que o da Brahma, com todo respeito, sempre foi muito ruinzinho). Tudo isso era temperado por um gosto doce de família misturado com amigos, tanto os pequenos como os pais dos pequenos. E o gosto bom de família se confunde com simplicidade, com doçura, com aconchego. Não conheço quem resista ao poder da família.

Isso foi o que eu vi, senti e me comovi no aniversário do Theo. Papai e mamãe exultantes com a alegria reinante, transbordando de contentamento a ponto de parecer uma enchente formada por ela, a tal felicidade. Crianças são seres mágicos e sábios, capazes de experimentar a felicidade com o que há de mais simples. Papai e mamãe do Theo conseguiram capturar exatamente essa sabedoria e, mais que isso, envolver a quem estava por ali.

Por sorte, eu estava. Era um dos acompanhantes de uma das convidadas do Theo, uma jovenzinha que, ao chegar à festa, foi abraçar o anfitrião e ganhou um beijo em retribuição. A plantinha da felicidade estava lá, quase que com certeza. Eu não consegui vê-la porque ela nunca se mostra. Mas ela me envolveu como deve ter envolvido a todos. Devem ser os tais mistérios que vão além do que pode a nossa vã filosofia.

Tomara que ela nunca largue do Theo.

Bellini Tavares de Lima Neto

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  1. Fabio says: Responder

    Lindo Bellini. Parabéns mais uma vez.

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