Um aniversário de 5 anos e a difícil escolha do presente!
Na semana passada foi o aniversário de 5 anos do meu Bernardo.
Como a maioria das crianças, ele acordou entusiasmadíssimo e logo que me viu perguntou: “Mamãe é hoje o meu FELIZ aniversário?” Achei graça, mas sem nem titubear já fui logo respondendo: “Sim, querido, é hoje o seu FELIZ aniversário. E espero que todos os demais também sejam muito, muito felizes”. Ele me olhou todo orgulhoso e fomos tomar café!
Durante toda a manhã brincamos, conversamos e então veio a pergunta: “Mamãe, o que vou ganhar de aniversário?” E eu respondi: “o que você gostaria de ganhar?” E aí vieram 300 opções diferentes … rs! Eram tantos os desejos, tantos os quereres que resolvi encurtar a história e dizer de pronto que teria de escolher um único presente, mas mesmo assim a tarefa continuou árdua e praticamente impossível de ser realizada pelo meu pequeno.
Achei o momento super oportuno para conversarmos sobre algo que realmente nos incomoda aqui em casa: o excesso de brinquedos e a banalização do consumo.
Posso estar errada, mas tenho a impressão de que quando éramos crianças nossa relação com os brinquedos era um pouco diferente. Não que não tivéssemos dúvida do que queríamos ganhar, não é isso. Mas acho que, primeiro, desejávamos mais as coisas (hoje em dia o desejo das crianças é mais facilmente realizado) e, segundo, quando ganhávamos curtíamos por mais tempo porque afinal de contas tínhamos esperado muito por aquele brinquedo.
Hoje me parece que as coisas mudaram. As crianças além de ganharem as coisas com mais facilidade e mais freqüência, logo perdem o interesse pela novidade e em pouco tempo temos mais um brinquedo ali empilhado.
Não sei exatamente o porquê desse fenômeno, mas arriscaria a dizer que deve-se ao fato de que hoje as crianças tem muito mais opção e estão infinitamente mais expostas ao consumo, à publicidade infantil e a uma enorme variedade de brinquedos. Sem falar nas mensagens subliminares da nossa sociedade que acabam sempre dando um jeito de valorizar o que temos, ao contrário do que somos.
De verdade, acho que opção demais confunde. E se confunde nós, adultos, nos deixando muitas vezes sem saber ao certo o que realmente queremos ou o que somos influenciados a querer, imagina só o que se passa pela cabecinha dessas pequenas pessoas que ainda estão formando sua capacidade de escolha?
Pois bem. Foi pensando em tudo isso que achei uma brecha pra conversar com o Bê sobre o que os brinquedos que ele tanto queria (ou pelo menos achava que queria) lhe trariam de prazer versus o que de repente um passeio divertido ou qualquer outra experiência poderia significar. Falamos sobre os brinquedos preferidos, os lugares que ele gosta de ir, o que era mais marcante, mais divertido. Tudo, obviamente, de forma super leve e descontraída.
Plantei a idéia e deixei que ele refletisse. O dia passou, ele cantou parabéns com os amigos na escola, jantou em casa com o avós e os tios e novamente cantou parabéns, ganhou alguns brinquedos, (claro!) e no fim desse dia cheio de emoções, quando seus olhinhos já estavam quase se fechando de cansaço, mas transbordando alegria, ele se vira pra mim e diz: “mamãe, pensei naquilo que a gente conversou hoje cedo e acho que já sei o que eu quero de aniversário”. Eu ansiosa pra ouvir a resposta, perguntei: “e o que você quer, filho?”. “Quero ir na Cidade da Criança”. Confesso que nessa hora meu coração disparou, meus olhos se arregalaram e eu não consegui disfarçar a alegria e o orgulho danado por aquela resposta. Passei a mão naquele rostinho cansado e apaixonante e respondi: “Que delícia de presente, Bê, acho que foi uma excelente escolha”.
Não faço ideia em que momento da nossa história estabelecemos essa relação tão íntima entre o prazer e as coisas que se pode comprar. Também não sei ao certo quando assumimos que criança obrigatoriamente tem que ganhar brinquedo em datas comemorativas e é isso ou nada. Ganhar brinquedo e presentes em geral é realmente delicioso e comprar o que desejamos também. Não se trata disso. Mas tenho a clara impressão de que estamos perdendo a mão e isso vem se traduzindo em um consumo desenfreado e pessoas sem limites para o querer .
Acredito de verdade que as melhores coisas da vida não estão disponíveis em uma prateleira e por isso, quanto antes aprendermos essa lição, maior nossa chance de crescermos e vivermos em um mundo que se importa mais com o ser do que com o ter. E mais, é nosso papel como pai e mãe, ensinar aos nossos filhos desassociar o conceito de felicidade do verbo “comprar”.
Aí alguém vai dizer: “Mas ele só tomou essa decisão porque você o influenciou”. E eu responderia: “Sim, é verdade”. Mas o que se esperar de uma criança nessa idade, senão agir com o mínimo de influência dos pais? Afinal, quem são os responsáveis (e que responsabilidade !!) por orientar nossas crianças na formação do caráter, dos valores que levarão consigo, da personalidade e muitas vezes nas escolhas que farão na vida? Então pronto, está tudo certo!
Pra que o presente ficasse com cara de presente preparamos um cartão bem legal dizendo a ele que estávamos dando um dia todinho no parque que havia escolhido e o quanto desejávamos que fosse um dia especial. A carinha dele ao abrir o envelope foi impagável.
Amei a escolha do Bê de nos levar à Cidade da Criança. O parque é simples, não muito grande, e com tudo o que a criançada adora: espaço pra correr, brinquedos cheios de aventura e muita, muita alegria. Passamos lá deliciosas 3 ou 4 horas de pura diversão. Voltamos pra casa com o estoque de energia zerado, mas o coração cheio de felicidade.
Foi um dia muito especial pra todos nós, mas tenho certeza de que pro Bê foi realmente um FELIZ aniversário com um presente inesquecível !
Um beijo
Andrea