Quem quando criança não voltou pra casa imundo depois de um dia cheio de brincadeiras na praia, no parque, no sítio ou na pracinha da rua?
Pra se descobrir, criar e se desenvolver as crianças, além de muitas outras coisas, também precisam de liberdade. Precisam de brincadeiras que permitam correr, pular, explorar e estar em contato com os mais diversos ambientes, materiais e possibilidades.
E como pensar em tudo isso, sem falar da importância do contato com a natureza? Correr na grama, se sujar de lama, tomar banho de chuva ou de cachoeira, brincar na areia, correr na praia … Além de delicioso, é super importante para que as crianças tenham uma infância saudável e cheia de boas experiências e recordações. Sem contar que fica muito mais fácil conversar sobre amor e respeito pelo meio ambiente quando se cresce mais perto dele, não é mesmo?
Mesmo vivendo em uma cidade grande, é possível (e essencial) dar uma escapadinha pra curtir a natureza. São Paulo pode até ser uma selva de pedras, mas sempre há um cantinho verde pra gente se deliciar!
Se você também acredita nessa ideia e na importância do contato das nossas crianças (e de todos nós) com a natureza, não pode perder o texto super bacana da Jornalista Giuliana Capello.
Boa leitura
Um beijo
Andrea e Anna
Criança precisa de natureza
Giuliana Capello – 17/04/2012 às 20:02
Que me desculpem os arquitetos e engenheiros desses grandes condomínios residenciais, mas crianças não vivem só de brinquedoteca, salão de festas e espaço teen. Brincar ao ar livre, em parques, por exemplo, é fundamental e pode até combater uma série de doenças provocadas, digamos assim, pela falta de natureza. Você deve conhecer algumas crianças que só frequentam apartamentos e shopping centers, não? E tudo de carro, não é? Pois então, pode observar: muitas sofrem de estresse, vivem com alergias estranhas, têm medo de andar descalças e sentem nojo de mexer na terra…
Dos adultos de hoje que não veem graça numa cachoeira, fazem de tudo para não ficar longe dos centros urbanos e, por fim, não se interessam minimamente pelas questões socioambientais tão cruciais do nosso tempo, boa parte teve, provavelmente, uma infância sem natureza. Não é psicologia de botequim, não. Estou falando de gente que conheço, com quem já trabalhei ou estudei, gente que fez ou faz parte do meu círculo social – e que diz sem constrangimento algum que gosta de tudo asfaltadinho, sem terra para sujar os pés ou os pneus do carro novo…
Falar em educação ambiental para esse pessoal é um desafio e tanto, porque a sensação de pertencimento, de ser parte de um lugar (e querer, por isso, cuidar dele) não faz muito sentido. O que é meio ambiente para essa turma? Talvez a Amazônia ou o Pantanal, lugares remotos e muito distantes (em todos os sentidos) de sua realidade de prédios altos, elevadores, metrô e outras caixinhas apertadas – tão comuns nas cidades que ninguém mais se lembra delas.
Criança precisa de natureza, muita natureza. Precisa pisar na terra, tomar chuva sem medo de resfriado, subir em árvore para pegar fruta, ficar feliz (e não assustada) ao ver uma minhoca. Isso faz toda a diferença mais tarde, pode ter certeza disso.
Um amigo muito querido mantém há anos um acampamento infantil com uma proposta bem natureba, que inclui fazer yoga pelas manhãs, trabalhar na horta, fazer casinha de pau-a-pique, nadar no lago (e, para isso, aprender a encarar o lodo sem gritos de desespero), meditar ouvindo os passarinhos. Diz ele que as crianças adoram porque quase tudo é novidade…
Brincar na natureza é muito sensorial, primitivo (no melhor sentido do termo),intuitivo. Mas é preciso vencer as primeiras resistências (dos pais, na maioria das vezes) para somente depois conseguir curtir sem ficar pensando em não sujar a roupa ou não sentar em formigueiro.
Aqui na ecovila, já vi criança de todo jeito. Lembro-me de um menino de uns dez anos que, quando os pais vinham passar o fim de semana, ele se trancava no único quarto com tv e passava o tempo inteiro assistindo Guerra nas Estrelas, sem ver o sol ou a lua, só comendo salgadinho de saquinho. Tem também as que ficam agarradas aos pais, morrendo de vontade de brincar no enorme balanço da araucária, esperando qualquer sinal deles que diga: “pode ir que é seguro”.
Criança que costumo chamar de mais saudável – porque tem energia e entusiasmo para experimentar a vida sem tantos medos – infelizmente, são as mesmas que, nas cidades, são medicadas após o diagnóstico de hiperativas ou com déficit de atenção. Sem palavras.
Para nosso consolo, há aquelas que – ufa! – quebram as regras, mal chegam e logo tiram o sapato, se enfiam no mato, entram em outra atmosfera – simplesmente se encontram. (Hoje em dia devia ser obrigatório oferecer oportunidades para as crianças terem um tempo na natureza, algo como escovar os dentes ou estudar português.)
Sábado passado, recebemos na ecovila um grupo de 13 crianças e adolescentes que são de um abrigo da cidade. Estão lá porque ficaram órfãos ou porque os pais perderam sua guarda por problemas com drogas ou violência doméstica. Eu não conhecia as crianças, não sabia ao certo a faixa etária, nada, nada. E fui escalada para fazer umas atividades com elas no pomar ou na praça. Levei um tempo pensando em que brincadeiras propor, em como adequá-las da melhor maneira possível. Até que me fiz a pergunta: adequar a quem, ao quê? São crianças, certo? Simplesmente crianças. E precisam de natureza. Pronto, foi o que oferecemos a elas: um lugar aberto para brincar, cercado de gente que voluntariamente veio ajudar a cuidar, com afeto e carinho de coração.
A visita delas foi linda, marcante para todos nós. Gerou muita reflexão sobre o estado das nossas famílias, os desafios sociais, a adoção como gesto de profundo amor, a necessidade de uma escola mais perto. Onde entra a educação ambiental nisso tudo? Em tudo, oras! No caso delas, que moram numa casa pequena e sem quintal ou mesmo um pátio interno, ter espaço para brincar sentindo o calor do sol e a brisa fresca foi algo raro, incomum. Nossos mundos não se cruzaram por acaso e é por isso que queremos, agora, tornar essas visitas frequentes, mensais ou quinzenais ou sei lá. Será uma boa troca: nós oferecemos o lugar; elas nos dão a oportunidade de sermos criança outra vez – e na natureza.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos-e-gaianos/crianca-precisa-de-natureza/